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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Muitas histórias

Parte Histórica- Pouso Alegre (p. 79-83)
Este homem que, longe dos centros urbanos civilisados, prosperou à custa do seu trabalho,  teve a idéa de ser grato aquelle donde dimanam todas as felicidades terrestres; e querendo plantar nestas paragens incultas arvore fecunda da religião, fez, no fim do século passado, doação do terreno necessário para edificação de uma capella dedicada ao Senhor Bom Jesus.
Decorreram alguns annos, até que em 1795, mais ou menos, a expensas de alguns moradores visinhos, foi construída a pequena capella; e não se sabe si João da Silva chegou a ver realisada a sua idéa.
Concluida a capella, foi nella celebrada a primeira missa que houve neste logar pelo parocho de S. Anna do Sapuchay, padre Francisco de Andrade Mello, que desde então ficou como capellão particular.
Até 1799, o nascente povoado era conhecido pelo nome de Mandú.
Foi, mais ou menos, nessa epocha que o governador de São Paulo, D. Bernardo Josée de Lorena, conde de Sarzedas, tendo sido transferido para a capitania de Minas Geraes, fez pouso na nascente povoação, onde veiu ao seu encontro o juíz de fóra da Campanha, Dr. José Joaquim Carneiro de Miranda, que também pela primeira vez visitava estas paragens.
Surprehendidos pela belleza do logar que os encantava, um daquelles personagens, querendo dar á povoação um nome que estivesse mais em harmonia com a natureza da localidade, dissera:- isto deveria chamar-se Pouso Alegre, e não Mandú; e conta se que dahi lhe veio a denominação que ainda hoje conserva.
Por alvará de 6 de Novembro de 1810, foi Pouso alegre elevado a freguezia, e 21 annos depois a villa, pela lei de 13 de Outubro de 1831.
A lei provincial, n. 433, de 19 de outubro de 1848, elevou á categoria de cidade.
Sen termo, depois de pertencer ás comarcas do Rio Verde, Sapucahy e Jaguary, foi pela lei mineira, n. 11 de 13 de Novembro de 1891, classificado em comarca.
O terreno da cidade é limitado por uma linha que começa, rio abaixo, áquem do corrego do Tanque no Mandú; e subindo para a rua da Palha, segue a um lado desta, ficando a mesma dentro do perímetro, até encontrar o Tanque; e subindo por este córrego até á cabeceira, contorna depois o espigão, e vai encontrar a cabeceira do corrego que divide terras do capitão Candido de Barros e outros; desce deste ponto a encontrar a porteira das Taipas, e daqui ao Rio Mandú, e por este acima finalisando onde começa esta demarcação.

O terreno fechado por esta linha deve ter approximadamente quatro kilometros quadrados.
Mas voltemos à cidade: analysemos de passagem os seus edificios, consideremos os seus melhoramentos mais importantes, e notemos as suas necessidades e os seus defeitos:
Eis-nos junto aos trilhos da Estrada de Ferro Sapuchay, que, depois de atravessar o Sapuchaymirim, pouco abaixo do Mandú, vem cortar o extremo sul da cidadenas proximidades deste rio, por cujo valle vai subindo em demanda da fronteira de S. Paulo.
Foi no dia 25 de Março de 1895 que aqui chegou o trem inaugural, trazendo a seu bordo a directoria da Estrada, representantes do governo de Minas, da imprensa da Capital Federal, e grande numero de convidados pela directoria e pela comissão dos festejos com que a Camara Municipal deliberou commemorar este notavel acontecimento.
A Estação é uma construcção singela, em forma de chalet; tem uma plataforma regular, mas pequena para conter a grande massa de povo, que quasi sempre ahi se agglomera por ocasião da chegada dos trens. Tem um pequeno armazem para deposito de mercadorias, dois gabinetes, communicando-se para o agente e telegraphista, separados do armazem por um corredor que serve de sala de espera; e accomodações no restante do edificio para a familia do agente.

O terreno das dependencias da estação é muito acanhado, e não póde comportar mais do que o desvio e o virador de machinas que alli se acham construidos.
As construcções de particulares já encurralaram a estação, de maneira que se no futuro houver necessidade e augmentar o terreno, não será senão á custa de desapropriações dispendiosas.
O terreno das dependencias da estação de uma cidade como Pouso Alegre, cujo movimento tende sempre a augmentar, precisa ser amplo para facilitar o movimento de carroças, tropas, carros de boi, cavalleiros, e carros de luxo; e bem assim a manobra dos trens.
Perto da estação já vão apparecendo alguns chalets de bom gosto, destoando do estylo antiquado da maior parte das construcções da cidade.
Tambem para afeiar o logar, vê-se a um lado um terreno de fórma retangular cercado por uma grade de tijolos, tendo em um de seus angulos um enorme arco, que na sua construcção não obedeceu senão ás leis do equilibrio; e consta que este terreno estava destinado para a edificação de um grande hotel, casa para negocio ou cousa que o valha; mas que afinal, ao seu dono tendo que retirar-se, alli deixou aquella especie de ruinas, dando ao logar um aspecto tristonho e de abandono. Estas obras inacabadas, perto de um estrada de ferro, causam má impressão e produzem verdadeiros contrastes:- aqui a locomotiva symbolisando o progresso, alli as ruinas symbolisando o atraso.    
Estaçao da RMV

Fonte: OLIVEIRA, A. M. Almanack do Município de Pouso Alegre. Rio de Janeiro: Casa Mont’Alverne, 1900.

*Escrito como no original.

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