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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Pouso Alegre por Amadeu de Queiroz


“Vivíamos lá muito apartados, sozinhos olhando o mundo de longe, através de notícias atrasadas. Com a nossa crédula naturalidade, falávamos das setenta e duas léguas a que ficava Ouro Preto, distância que jamais se percorria naqueles tempos, mas se media de povoado em povoado, simples direção no rumo norte, por onde se poderia alcançar, ousando-o, a capital da Província. (...)

Viajava-se tradicionalmente a pé, a cavalo ou de liteira carregada por mulas, quando se tratava de conduzir velhos, crianças e doentes. Não possuíamos veículos de transporte a não ser o desconjuntado trole do negociante Batista; afora ele, o carro de bois, o carrinho de carneiros, a carroça do capitão Caetano Lopes, puxada por um cavalo, única e memorável carroça existente no vastíssimo município de Pouso Alegre! (...)

E a vila conservava imutável o seu ar de abandono e de solidão, apenas agitada aos domingos, quando os roceiros concorriam à missa e iam ao mercado, precisando vender os seus produtos para se abastecerem nas lojas e nas vendas. Aos domingos o burgo se ajuntava e se confundia, vivendo intensamente dentro do seu isolamento para, no dia seguinte, recair na monotonia da pacata existência sob um céu azul, e repousar confiante, debaixo das estrelas.

Fato nenhum da natureza perturbava a harmoniosa calma da paragem. Nenhuma agitação inquietava o sossego de Pouso Alegre, a não ser a contínua passagem das boiadas e porcadas, dos rebanhos de cabras e carneiros, das manadas de éguas e de mulas – a multidão pecuária que descia das ricas pastagens dos Campos de Caldas, de Alfenas, das serras do oeste, e transpondo a cidade, tomava o rumo para a Barreira do sul, no alto da Mantiqueira. (...)

Avenida do Imperador- Século XIX

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