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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Arlindo


Todo e todos tem a sua história na vida. E é por isso que eu estou contando a história dos humildes de minha terra, daqueles cujos nomes estão sepultados pela poeira do tempo.
Em minha primeira crônica citei, de passagem, o nome de Arlindo, que, certamente deve ter despertado a curiosidade de uns e a saudade de outros. Quem não se lembra daquele pretinho baixo e gordo, de passos curtos e celeres, que percorria as nossas ruas apanhando o lixo? Era o Arlindo lixeiro. E, em se lembrando de Arlindo, forçosamente se lembrará de um fato curioso que era presenciado todos os dias, todas as horas com a sua besta rosada. É que naquele tempo apareceu o Tiro de Guerra e toda a cidade andava entusiasmada com as evoluções da tropa, com o toque de corneta e o rufar dos tambores. Pois o Arlindo conseguiu em curtíssimo tempo o que hoje faria inveja ao burro Canário. Dispensou o cabresto e o chicote e passou a usar para dirigir a “rosada” apenas o assobio, no qual comandava “ordinário marche”, “direita”, “esquerda”, alto, enfim, todos os toques de comando. Era um espetáculo digno de apresentação num Cassino de Copacabana, como aconteceu com o Canário.
Um dia a “rosada” apareceu sob outro comando. Agora não era com assobio e sim com o chicote e aos arrancos do freio na boca. É que o Arlindo fora tentar a vida em outras plagas... e lá perdera a vida. Sim, um dia na represa da Usina, fora tragado pela tribulação da represa. Quando seu corpo foi atirado de encontro a turbina, já era cadáver...
... e tudo ficou somente em nossas ruas a “rosada”, puxando a carroça de lixo sob o chicote impiedoso de um novo condutor desumano... e o assobio do Arlindo comandando “ordinário marche”... “direita”... “esquerda”... “alto!”.    

*Extraído do Jornal “A Cidade”, 13 de Fevereiro de 1949, José Ribeiro da Costa.

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