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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Escola de Pharmacia

Pouso Alegre, população cavalheiresca e de costumes fidalgos, empório da instrucção e educação desde os tempos imperiaes nas regiões do Sul de Minas, como disse recentemente um peregrino discurso um visitante paulista, cidade civilisada e culta, bem merecia há muitíssimos annos um Instituto de Ensino Superior- idéal esse que despontou aqui realmente nos tempos áureos do inicio do século presente e que teve plena realização há três anos devido ao acolhimento dos que tem posses mais ou menos avultadas e máxime ao devotamento dos competentes, que se prontificaram, puramente por amor ao idéal colimado, a prestar o seu contingente indispensável, em razão do que são credores dum agradecimento apotheótico de todos os pousoalegrenses, de quem são bemfeitores inquestionavelmente.
Fulgurará o dia 4 de fevereiro de 1914! Fulgurará sim; por que essa data é o marco de mais um cyclo descripto na orbita das florescências da civilisação em nossa cidade.
Um Instituto moderno já seria muito; mas o que se fez, o que se conseguiu, o que ahi está como facto, desafiando os argumentos, vale por uma conquista, um idéal, uma victória. 
Urgia capital para montagem de gabinetes e 22 contos de réis num abrir e fechar d’olhos se precipitaram nos cofres da sociedade anonyma, que se constituira com tal meta.
Urgia um corpo Docente idôneo e uma plêiade de intellectuaes,trazendo a frente os nomes que são nomeadas, de Nothel Teixeira, Arthur Guimarães, Rodolpho Teixeira, Sebastião Meyer e outros que me escapam no momento, se prontificam a preechel-o com competência e dedicação.
Dedicação e competência raras: porque são homens de reputação mais que firmada na esphera dos seus conhecimentos específicos e porque se propozeram a exercer não a ambição do lucro, mas em toda a linha a industria d’um ideal, - o desenvolvimento intelectual sempre mais intenso e efficaz em Pouso Alegre.  
Conseguido o mobiliário escolar, remodelado um edificio amplo e confortável, organisado um corpo docente de primeira ordem, só faltavam bons gabinetes.
Esses vieram logo d’Europa ao valor de mais de dezoito contos.
O Laboratorio de Physica é de primeira ordem: merece a mais lisongeira noticia, que a falta de espaço hoje nos priva em absoluto de descrever.
O de bactereologia é estupendo, simplesmente magnífico, basta dizer que na opinião dos competentes que o visitaram, se identifica ao do Rio de Janeiro, pelo qual foi modelado. O Museu de Historia Natural com secções especiaes de entomologia e serpentologia regional com muitíssimos espécimens, o laboratório de Physica e Chimica, gabinetes de prothese e clinica Odontologicas, tudo se encontra no melhor estado de conservação, nada deixando a desejar em seus complementos.
Os programmas desde o inicio foram executados e estabelecidos nos moldes da Faculdade congênere da Capital Federal. Em geral se dão duas aulas theoricas e uma pratica por semana para cada disciplina.
Há exercícios de observação ao microscópio, de experimentação com apparelhos de Physica, de preparações chimicas e reconhecimento dos elementos componentes, de verificação das alterações e falsificações, quer dos medicamentos quer das principaes substancias alimentícias.
Em toxicologia tem-se dado um cunho eminente pratico a parte pericial para se conseguir a mais prompta e exacta habilitação nos alumnos a verificarem a existência e reconhecerem os diversos vermes e a um tempo os modos mais acertados e os meios mais eficazes da sua propinação. Em bactereologia se fazem constantemente exames de sangue, escarros, ulsudatas, transudatas, etc.
É de se admirar e aplaudir como homenagem a verdade um curso tão perfeito assim numa Escola Particular.
É a pura realidade o que dizemos e quem duvidar é bastante de... antes de tagarellar, vir patentear o facto apreciável a toda a gente competente e seria.
Esse curso que nas outras faculdades em tudo similares a nossa não tem passado de cadeira nominal e hypothetica, é um esplendido attestado da seriedade, severidade e competência do magistério superior de direito, de dever, de dignidade e... de facto na nossa Escola.
É quasi incrível, mas é realidade que convida aos capazes e imparciaes a uma verificação feita em demorada e minuciosa visita.
Era mister muita abnegação, muito sacrifício, voluntariedade inquebrantável, intelligencia e experiência... O sacrifício se fez e o resultado nessa parte é só por si uma coroa de gloria para os paladinos desse ideal, que os nobilita, enaltece, glorifica tanto mais quanto é alcandorado e puro o fim que tiveram em vista.
Na pessoa do notável clinico Dr. Nothel Teixeira, primeiro director da Escola, o povo de Pouso Alegre, saúda esta legião gloriosa da vencedora idéa.
Após dous annos de funccionamento regular com optimos resultados, ao finalizar o segundo tirocínio, se fez nova eleição para Director. A escolha cahiu no brilhante nome do Pharmaceutico Rodolpho Teixeira, vice-presidente da nossa Camara, membro do Directorio Politico Local, cidadão conceituadíssimo no nosso meio.
Não poderia ser melhor: o eleito é um homem que reúne em si um verdadeiro escrínio de pérolas, de qualidades raras.
Cidadão de trato fidalgo, caracter firme, de temperamento sereno, intelligencia clara, vontade austera, coração expansivo e jovial, - é desses homens raros pela harmonia de predicados, que possue  e que o tornam elemento indispensável de ordem e do melhor sucesso a frente d’uma administração.
A vice-directoria que foi occupada nos annos transactos pelos abalisado operador Dr. Arthur Guimarães, é exercida actualmente pelo hábil dentista Snr. Joaquim Nunes Brigagão. A eleição de faz por dous annos pela assembleia dos accionistas e a Directoria fica constituída por um Director, um vice Director, que devem sair do Corpo Docente e de um thesoureiro, que é eleito entre os accionistas, os quaes por esta forma estão habilitados a zelarem de seus interesses e da correcçao das transacçoes feitas nesse sentido. E de facto: estamos informados que impera completa satisfações no animo dos accionistas com relação a parte econômica.
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A Escola se fundou aqui em virtude da Lei Federal, conhecida por lei Rivadavia, que lhe dava direito de registro aos seus títulos na Directoria Geral da Hygiene. Esta lei desappareceu para os seus effeitos com a Reforma Carlos Maximiliano; mas o Congresso Estadual votou então a Lei n. 268, de 22 de Setembro de 1914, com caracter geral para todas as escolas.
Abrogada esta, o actual Senador Eduardo Amaral, naquelle tempo presidente do Congresso Legislativo Estadual, apresentou e defendeu uma emenda a um projecto de lei sobre o ensino secundário em 1915, mandando registrar os diplomas das escolas de S. João d’El-Rey, Alfenas e Pouso Alegre.
Assim continuou a funccionar em goso de regalias e prerrogativas, que lhe competiam não só de facto, officialmente, mas ainda de direito, por que a Escola de Pouso Alegre pode comparecer a uma comparação com qualquer Instituto Official, quer deste Estado quer de S. Paulo.
A lei ultima, porém, de 12 de Setembro de 1916, regulando o exercício da profissão pharmaceutica, a qual o permittia exclusivamente aos formados pelas escolas Officiaes, veio suscitar opiniões divergentes sobre a acceitação ao registro dos diplomas conferidos pelas Escolas a que se referia a emenda de 1915.
Após maduro estudo da questão, porém, na Secretaria do Interior, ficou definido que os diplomas conferidos pelas Escolas Officiaes, veio suscitar opiniões divergentes sobre a acceitação ao registro dos diplomas conferidos pelas Escolas a que se referia a emenda de 1915.
Após maduro estudo da questão, porém, na Secretaria do Interior, ficou definido que os diplomas conferidos pelas Escolas a que se referia a emenda de 1915 seriam acceitos a registro como dantes. A lei actual se estendia apenas a outros estabelecimentos particulares em geral com excepção das Escolas de Pouso Alegre, Alfenas e S. João d’El-Rey.
Essa interpretação positivamente se não definira ainda quando precipitadamente se julgou entre nós uma questão resolvida, quando estava apenas em perspectiva.
Prevalesceu afinal a execução da emenda Eduardo Amaral sanccionada em 1915 pelo Congresso, ficando a nossa Escola com prerrogativa. Inquestionavelmente concorreram, porém, para que os estudos, que se faziam sobre o assumpto na Secretaria do Interior sob os auspícios do grande amigo e eminente titular Sr. Dr. Américo Lopes-, tivessem mais rápida solução, a instancia do Exmo. e Revmo. Dom Octavio Chagas de Miranda, D. D. Bispo Diocesano e também o generoso e inequívoco acolhimento do Sr. Dr. Delfim Moreira, Presidente do Estado e a dedicação dp Director da Escola Sr. Phco. Rodolpho Teixeira, cuja atitude durante toda a gestão do problema estáacima do mãos caloroso elogio.
Fica assim gosando do direito de conferir diplomas de competência para o exercício das profissões pharmaceutica e odontológica, desde já, a nossa Escola.
Esses títulos de formatura numa e noutra profissão, segundo a declaração peremptória e publicamente feita pelos Srs. Presidente e Secretario do Interior, serão este anno mesmo acceitos na repartição de registro geral de Hygiene em Bello Horizonte.
Os diplomas dados na Escola de Pouso Alegre, officialmente habilitam e dão direito aos portadores, de montarem Pharmacia e exercerem a arte dentaria em todo e qualquer logar do Estado de Minas Gerais.
Eis em linguagem mais clara e positiva o que se acaba de conseguir.
A mocidade Academica, representada por uma commissao de 15 membros, a política pelos Srs. Senador Eduardo Amaral e Cel. Herculanp Cobra, a Directoria da Escola pelo Sr. Pharmaceutico Rodolpho Teixeira, o Fôro pelos Drs. Drausio de Alcantara e José Francisco do Rego Cavalcanti, o Exmo. Sr. Bispo Diocesano, que foi o maior pioneiro da promptidão da decisão favorável à nossa Escola perante o Governo do Estado, representado pelo Secretario do Bispado, Padre Dr. Furtado de Mendonça,- apresentaram em S. Rita, no dia 20, a S. Excia. O Sr. Dr. Delfim Moreira, Presidente, e ao Exmo. Sr. Dr. Américo Lopes, secretario do Interior, agradecimentos pelo muito que tem feito e continua a fazer pelo nosso engrandecimento.
Ao Exmo. Sr. Dom Octavio. A 23 se fez estrondosa recepção em agradecimento pelos esforços empregados em prol da conservação deste importantíssimo instituto de ensino superior, conseguindo a mais rápida e melhor solução ao caso da parte do Governo do Estado.
À política local, ao Governo do Estado, à Directoria da Escola, ao Exmo. Sr. Dom Octavio, à mocidade acadêmica, a Pouso Alegre em peso, as nossa apotheoticas homenagens, os mais ruidosos applausos.
(F.M.)  


Extraído do Jornal “Gazeta de Pouso Alegre” 26/11/1916
*Escrito como no original

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