Dentre as tradições de uma cidade conta-se inevitavelmente com uma BANDA
DE MUSICA, ainda que ela seja uma charanga.
Esse barulho de latas velhas, por excelência, por vezes de alta significação,
nunca faltou no patrimônio memorável das crônicas cidadinas. Salienta-se em
cada história de uma cidade, quase sempre de mistura com os fatos mais notáveis
dos acontecimentos políticos, a história de uma BANDA DE MUSICA, ligada a
lembrança de um homem de ação, como e que se bate pelo reerguimento moral de
uma causa combalida, no coração de sua terra querida, no seio da sociedade em
que viva. Filantropicamente, nada mais complazivel do que a instituição de uma
obra edificante.
Depois de um eclipse ligeiro, em matéria de BANDA DE MUSICA, surgiu em
Pouso Alegre a “EUTERPE SÃO BENEDITO” pela energia construtora, e a liberdade
filantrópica do Exmo. e Revmo. Vigário Geral Monsenhor Dr. Antonio Furtado de
Mendonça, nos fins da Grande Guerra. Foi este preclaro concidadão, homem das
letras, Poeta, Filosofo, mestre de muitos Doutores de hoje, que, nos deu, a nós
Pousoalegrenses, a Banda de Musica “Euterpe de São Benedito”, sob a direção o saudoso
maestro Paulo Patrício.
No transcorrer do tempo, outras organisações musicais apareceram
medrosas, por aí, e desapareceram sem deixar o clarão extraordinário que a
“Euterpe São Benedito” mantém em suas tradições.
Merece especial consideração o fato de nos diversos governos municipais
balancear a receita desta organisação, musical sem que o fiel registrasse uma
parada animadora. As subvenções anuais nas administrações passadas oscilaram de
dois a um conto de reis. Mas essas reduções da subvenção municipal a “Euterpe
São Benedito”, passaram como os ventos tempestuosos, e sucedeu-lhes a
administração fecunda do Exmo. Sr. Tuani Toledo.
Este concidadão, já consagrado pelo mérito de tantas empreitadas felizes
pelo seu devotado patriotismo a terra que o viu crescer, elevou a quota
subvencional de um conto de réis em que estava para a de um conto e quinhentos
mil reis, e cedendo a um pedido do atual Diretor da Banda Musical “Euterpe São Benedito”, deu as chaves da casa
da antiga Distribuidora de Força e Luz, onde se passaram a realisar os ensaios
daquela Banda Musical, gratuitamente.
Por este feito digno de todos os aplausos, por que melhorou uma situação
que vinha piorando de governo em governo, por que teve S. S. uma visão justa da
utilidade que presta aquela organisaçao musical, por que obrou com
desprendimento de espírito protegendo a quem merecia, não podemos deixar passar
desapercebida esta digníssima pratica de virtude de um Chefe que sabe ver as
conveniências em que há mancheias de razão. Louvemos-lhe a vitoria da
consciência coordenada com as ordens do coração.
Fazem-se festas, soltam-se fogos, ouve-se musica. Gastos e gastos em
beneficio de alguma coisa. Mas, chegada a hora de ajustar contas com a banda,
essa coitada, é sacrificada. Regateiam-se-lhe por todas as formas os seus
vencimentos.
Mas, tudo isso equivale a dizer que a “Euterpe São Benedito” se acha
necessitada de uma reforma geral nos seus instrumentos. Nota-se se esta banda
de musica ainda existe em Pouso Alegre, deve, em verdade, ao devotamente dos
seus musicistas, que, na sua totalidade são operários laboriosos, e da musica
não fazem profissão.
Devemos voltar as nossas vistas para a organisação musical “Euterpe São
Benedito”, antes que balda de recursos, ela venha a desaparecer!
Extraído do Jornal “A Cidade” 18/07/1937, p. 2
Escrito como no original
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