Determinando o
retorno do nome do Dr. Lisboa à principal artéria de nossa cidade, a Câmara
Municipal marchou ao encontro do povo, realizando um de seus grandes desejos.
O governo discricionário,
implantado em 1937, não respeitava a vontade popular, nem submetia à sua consulta
decisões que diziam de perto com o interesse do povo.
As mais caras tradições
eram transformadas em brazas ardentes no turibulo em que se incensava os
detentores do poder.
O incensório era o
objeto mais usado e mais disputado naqueles regime de tão triste memória.
Em Minas, principalmente,
só se conservava nas boas graças do suserano-mirim quem soubesse manejar com eficiência
o vaso precioso.
Pouso Alegre, como as
demais cidades, também teve sua quota, fornecendo matéria para o turibulo
oficial. O nome da nossa principal avenida foi uma das brazas que fizeram subir
aos céos a fumaça de resina aromática.
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Chamava-se José
Antonio de Freitas Lisboa, e era médico na acepção do vocábulo. Não tinha
limites seu amor pelos que sofram. Sua solidariedade era tamanha que o sofrimento
alheio também o atingia em cheio. As portas de sua casa e do seu coração estavam
sempre escancaradas.
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Cortava longas
distancias no lombo do cavalo, afim de levar o auxilio da ciência ou o calor do
seu coração aos que sofriam e choravam.
Em seu vocabulário tradicional
não existia a palavra “não”, por que nunca soube pronunciá-la. O povo, que não podia
pagar em moeda os seus benefícios, deu seu nome ao principal logradouro público.
A cidade cresceu e a
rua tornou-se o coração da cidade. Lá estava, pregado nas paredes, o nome de
seu benfeitor.
Um dia, porém, chegou
o regime da adulação, e o coração da cidade, que era a bela avenida, foi
escolhido para o sacrifício.
Atirou-se ao incensário
aquele nome, para alimentar a fumaça perfumada que se evolava e ganhava as
alturas.
Nunca o povo se
conformou com a troca. Impossibilitado de manifestar abertamente o seu protesto,
aguardava, confiante, o advento do regime da liberdade para fazer valer a sua
vontade.
A Câmara interpretou
a vontade do povo, determinando a volta do nome do Dr. Lisboa à nossa principal
avenida.
No coração do não se
entra pela força nem pela violência.
Jornal “A Cidade”
25/04/1948- capa