Isaías Pascoal*
O padre, deputado e senador José Bento foi o pioneiro no jornalismo político em Pouso Alegre e região. Foram criações suas o Pregoeiro Constitucional e o Recopilador Mineiro. Quando surgiu, em 1830, o Pregoeiro Constitucional, sob a ótica do Liberalismo, se opôs a D. Pedro I de forma resoluta e agressiva. Suas matérias eram mais doutrinárias e filosóficas, com pouca preocupação em descrever fatos. Os textos eram extensos, faziam comparações entre governos tirânicos (Turquia) e os democráticos (Inglaterra), e exaltava a ideologia Liberal, na realidade, a grande bandeira de luta dos que se opunham ao imperador.
Já o Recopilador
Mineiro (1833-37)
era de uma fase em que D.
Pedro I já havia renunciado ao poder. Na época, o interesse primordial do
governo regencial era garantir a ordem política e social e salvar o país da
“anarquia”. Suas matérias são mais relatos de acontecimentos. São menos
filosóficos e doutrinários. Há anúncios que, no Pregoeiro
Constitucional, eram
impensáveis. O mote principal são
os fatos políticos. Afinal, os leitores estavam interessados em acompanhar o
rumo da política no país. De longe, a maior preocupação.
Os acontecimentos do
exterior também eram assuntos de interesse dos leitores. Os jornais reservavam
um espaço para o noticiário internacional, sobretudo se relevante para a
situação interna crítica. Conhecer o que se passava fora do país,
principalmente na Europa, servia como norte para as lideranças políticas
brasileiras.
As notícias internacionais
chegavam com muito atraso ao sul de Minas, cerca de três meses após o seu
acontecimento. A imprensa não conseguia, nem mesmo, publicar notícias de uma
província a outra sem que isso levasse ao menos um mês.
O Pregoeiro
Constitucional, de 20 de outubro de 1830, nº 13, fala sobre a
revolução que explodiu em Paris no mês de julho. As matérias do exterior
publicadas enfatizavam os conflitos entre os países. O Recopilador Mineiro,
de 19 de dezembro de 1833, nº 89, trazia uma transcrição do Jornal
do Commercio que
fazia análise sobre a invasão da Ilha das Malvinas pela Inglaterra,
explicitando o apoio dos brasileiros aos argentinos: “Invadidas as Ilhas
Malvina pela Corveta de S. M.Britaneia (...) Entretanto a Regencia do
Imperio do Brazil,
(...), tem sido um dos primeiros que de modo mais franco e nobre deu uma prova
inequivoca de que olha para a Causa da America, como propria, e que em qualquer
tempo se collocará á frente dos Estados Americanos para resistir ao poder
Europêo. Estamos autorisados a publicar que a Regencia do Brazil, sem outra iniciativa além de
circular nosso Governo, ordenou seu Ministério Plenipotenciário em Londres o
Cavallheiro Mello Mattos, coopere por todos os modos possiveis a sustentar as reclamações do Ministro da
Republica Argentina a respeito da usurpação das Malvinas por parte da
Inglaterra”.
Além do dia-a-dia da
política nacional e internacional, os jornais faziam comentários sobre o
comportamento feminino, a chegada dos correios, divertiam seus leitores com
anedotas, e até noticiavam o falecimento de seus desafetos.
Em 16 de outubro de 1830,
na edição de nº 12 do Pregoeiro Constitucional, é noticiada a morte do presidente de
Sergipe: “Consta-nos que morreu o Presidente de
Sergipe; muitas vezes a morte de um mau empregado, é origem de paz, e
tranqüilidade!”
O Recopilador Mineiro de 9 de novembro de 1833 trazia ao fim
de sua edição uma anedota: “Anedocta: Aconselhava-se a um velho
que cazasse: elle respondeu, que não gostava de mulheres velhas: Disserão-lhe
que tomasse uma moça: oh! Replicou elle, eu sou velho, e não posso supportar as
velhas, como uma moça me ha-de supportar?”
Este era o cotidiano
retratado pelos jornais. Os acontecimentos políticos eram esperados e lidos com
interesse. A sociedade sul-mineira se desenvolvia e procurava se espelhar na
Corte em sua maneira de ser, de vestir e viver. Os homens liam e discutiam as notícias
em rodas de amigos, enquanto as mulheres faziam suas visitas, e José Bento
realizava façanhas na política e no jornalismo.
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