Todo e todos tem a sua história na vida. E é por isso
que eu estou contando a história dos humildes de minha terra, daqueles cujos
nomes estão sepultados pela poeira do tempo.
Em minha primeira crônica citei, de passagem, o nome
de Arlindo, que, certamente deve ter despertado a curiosidade de uns e a
saudade de outros. Quem não se lembra daquele pretinho baixo e gordo, de passos
curtos e celeres, que percorria as nossas ruas apanhando o lixo? Era o Arlindo
lixeiro. E, em se lembrando de Arlindo, forçosamente se lembrará de um fato
curioso que era presenciado todos os dias, todas as horas com a sua besta
rosada. É que naquele tempo apareceu o Tiro de Guerra e toda a cidade andava
entusiasmada com as evoluções da tropa, com o toque de corneta e o rufar dos
tambores. Pois o Arlindo conseguiu em curtíssimo tempo o que hoje faria inveja
ao burro Canário. Dispensou o cabresto e o chicote e passou a usar para dirigir
a “rosada” apenas o assobio, no qual comandava “ordinário marche”, “direita”,
“esquerda”, alto, enfim, todos os toques de comando. Era um espetáculo digno de
apresentação num Cassino de Copacabana, como aconteceu com o Canário.
Um dia a “rosada” apareceu sob outro comando. Agora
não era com assobio e sim com o chicote e aos arrancos do freio na boca. É que
o Arlindo fora tentar a vida em outras plagas... e lá perdera a vida. Sim, um
dia na represa da Usina, fora tragado pela tribulação da represa. Quando seu
corpo foi atirado de encontro a turbina, já era cadáver...
... e tudo ficou somente em nossas ruas a “rosada”,
puxando a carroça de lixo sob o chicote impiedoso de um novo condutor
desumano... e o assobio do Arlindo comandando “ordinário marche”... “direita”...
“esquerda”... “alto!”.
*Extraído do Jornal “A Cidade”, 13 de Fevereiro de
1949, José Ribeiro da Costa.
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