“Pouso Alegre é sem dúvida alguma a mais bella povoação do Sul de Minas.
O terreno, ligeiramente accidentado em que assenta a formosa cidade, a que não faltão
planícies encantadoras nem pontos vista admiráveis; o rio Mandu, que outr’ora
deu nome à localidade, e que hoje só por ella é conhecido; as bellas montanhas
que fechão o horizonte, e mil deduções da natureza esplendida desta região,
recomendão esta cidade tanto, como a belleza de suas ruas e praças, o capricho
e asseio que se nota nas edificações, - indicando tudo que ali vive um povo
intelligente e civilisado.
Na estação chuvosa as águas do Mandu, crescendo prodigiosamente, alagão
suas margens até pontos muito afastados, semelhando um mar cheio de ilhas,
dividido por um imenso aterro, sobre o qual está a estrada para São Paulo, que então
reperesenta uma extensa ponte.
A enchente, que em regra é aterradora e triste, tem em Pouso Alegre mais
sympathico aspecto, porque é com ella que a formosa cidade, mais faceira e mais
garrida se mostra aos olhos enlevados dos que a contemplão.
O Mandu, depois de deixar a cidade, lança-se no Sapuchay-Mirim, piscoso
rio que corre a menos de 2 kilometros confundindo-se depois com o Sapucahy-Guassú
que passa a 6 kilometros, e em cujas águas transitão livremente barcas com
capacidade superior a 1.000 arrobas e que fazem viagens entre diversos pontos
dos municípios de Pouso Alegre, Itajubá, Alfenas, Machado e Campanha.
A pouca distância corre o Cervo, cujo Valle, notavelmente ubérrimo, é
tido com um rico celleiro da freguezia.
Condições geographicas tão boas, unidas à excellentes terras de cultura
da freguezia, não podem deixar de trazer em futuro breve, o adiantamento moral
e material que a Cidade de Pouso Alegre, com razão, julga-se destinada a gozar.
Diz a tradição que foi um aventureiro, de nome João da Silva, quem
primeiro residio nesta localidade, erguendo sua casa nas margens do Mandu e
entregando-se à lavoura. Prosperando nesse trabalho, no fim do século passado,
João da Silva deu o terreno preciso para a edificação de uma capella consagrada
ao Senhor Bom Jesus. Construida essa igreja, para a qual concorrerão os
visinhos de Silva, no ano de 1795, mais ou menos, o Padre Francisco de Andrade
Melo, de Sant’Anna do Sapuchay, veio celebrar a 1.a missa, sendo então contratado
para capellão particular.
Em 1797, o governador D. Bernardo José de Lorena, Conde de Sarzedas, que
de São Paulo fora transferido para a Capitania de Minas Gerais, passou pelo
nosso povoado, onde veio encontra-lo o Juiz de Fóra da Campanha o Dr. José
Joaquim Carneiro de Miranda. Encantados pela esplendida belleza do lugar em que
se achavão, conta-se que um daqueles cidadãos dissera que o lugar não se devia
chamar Mandu, como então era conhecido, mas sim POUSO ALEGRE- e que dahi veio a
denominação que o povo e a lei posteriormente sanccionarão.
Foi o Alvará de 6 de novembro de 1810 que elevou Pouso Alegre á
categoria de freguezia- 21 annos depois á Villa pela Lei de 3 de Outubro de
1831, dando-lhe a lei n. 433, do anno de 1848, titulo de cidade.
A povoação possue 4 praças, 26 ruas e cerca de 400 casas, em geral bem construídas
e asseiadas. Tem um bonito e grande theatro, denominado UNIÃO, com accomodação
para 1.000 pessoas, tendo 75 camarotes, platéa com cadeiras e bancos,
pertencente a uma associação de homens intelligentes, que nelle tem levado á scena trabalhos importantes, com
excellente desempenho.
Filhos de Pouso Alegre que seguirão estudos superiores: o Dr. Grabriel
Osorio de Almeida, formado na Escola Polytechinica, Adalberto Dias Ferraz da
Luz, matriculado na Faculdade de Direito da cidade de São Paulo, Josino
Alcantara de Araujo, no 2° anno, e Luiz Candido da Rocha no 4°.
-A cidade possue uma typographia na qual se publica uma folha hebdomadária
intitulada Livro do Povo, de que é principal redactor o illustrado cidadão Luiz
de Almeida Queiroz. Já nessa cidade, por occasião da fundação do Imperio, se
havia publicado o PREGOEIRO CONSTITUCIONAL, e foi então que em Pouso Alegre,
primeiro lugar do Sul de Minas que teve imprensa, se imprimio pela primeira vez
no Imperio o projecto de nossa constituição política, que ainda hoje é
conhecido pelo nome de CONSTITUIÇÃO DE POUSO ALEGRE. Na cidade existe um
gabinete de leitura, fundado por alguns intelligentes moços, e onde são encontradas
obras de merecimento”.
Extraído do Jornal “A Cidade” 19/10/1948,
n. 16, ano I
*Escrito como no original
Nenhum comentário:
Postar um comentário